Mais uma vez, em sua coluna do Estadão, Rolf Kuntz denuncia a política econômica desastrada do governo federal, que se preocupa mais com o bem-estar dos companheiros (o importante é maquiar a economia, fingir que está tudo bem e reeleger Dilma) do que com a nação:
“Bagunça geral na política econômica
09
de fevereiro de 2013 | 2h 05
ROLF
KUNTZ - O Estado de S.Paulo
Não
dá para separar. O estrago na Petrobrás, a inflação disparada, a
indústria emperrada e a maquiagem das contas públicas são sintomas
do mesmo problema. O governo conseguiu bagunçar tanto a economia
quanto a caixa de ferramentas da política econômica. O estrago da
caixa é o mais grave. Gasta-se muito tempo discutindo se a
presidente Dilma Rousseff e sua troupe de trapalhões ainda levam a
sério os três princípios adotados no fim dos anos 90 - meta de
inflação, meta de superávit primário e câmbio flutuante. Não se
vai muito longe com esse requisitório. O governo pode responder
positivamente a todas as perguntas, com as ressalvas de sempre. Tem
de haver certa margem de erro para a inflação, o resultado fiscal é
sujeito a imprevistos e nenhum regime cambial é estritamente isento
de intervenções. Tudo isso parece razoável, mas a conversa oficial
é uma embromação. É possível embromar, nesse caso, porque as
questões realmente importantes são outras, a começar pela
importância atribuída, de fato, às condições básicas de
estabilidade. Esse teste permitiria comparar o governo brasileiro com
os de outros países latino-americanos. A semelhança mais notável
seria, certamente, com a administração da presidente Cristina
Kirchner, sobrando uma diferença muito mais de grau que de vocação.
Se
o governo brasileiro se importasse realmente com a inflação, a meta
seria muito mais baixa, como em outras economias, tanto desenvolvidas
quanto em desenvolvimento. Desde 2005 houve mudanças no Brasil e no
cenário externo, mas a meta de 4,5% foi mantida, sem nenhum
benefício para o País. A tolerância à alta de preços jamais
proporcionou à economia brasileira maior eficiência, dinamismo ou
competitividade.
Além
disso, as autoridades têm agido como se o alvo real fosse qualquer
ponto na margem de variação. As ações são conduzidas como se um
resultado final de 6,5% fosse perfeitamente aceitável. O presidente
do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, chegou a classificar como
desconfortável o número acumulado até janeiro - 6,15% em 12 meses.
Reiterou, no entanto, a disposição de apostar numa acomodação dos
preços no segundo semestre. Mero sangue-frio?
A
tolerância à inflação permitiu, no ano passado, conciliar a
redução de juros desejada pela presidente Dilma Rousseff e a
manutenção de uma política fiscal frouxa. Uma gestão mais séria
das contas públicas deveria compensar o relaxamento da política
monetária a partir dos meses finais de 2011, segundo explicaram, há
cerca de um ano e meio, os dirigentes do BC. Essa condição jamais
se realizou. O recurso a artifícios para maquiar as contas públicas
no fim de 2012 foi um desdobramentos dessa história. Mas esse é
apenas o dado mais pitoresco.
O
resultado concreto foi uma economia brasileira um tanto mais torta. O
combate à inflação por meio da política monetária foi suspenso,
enquanto a expansão do crédito continuou alimentando a demanda,
principalmente de consumo. Essa demanda foi alimentada também por
incentivos fiscais concedidos a alguns setores pelo Executivo. Esses
incentivos serviram ainda para a redução temporária de alguns
preços, com efeito benéfico de curtíssimo prazo nos indicadores de
inflação. O desajuste entre a demanda e a capacidade de oferta da
indústria nacional criou um vazamento nas contas externas. Sem o
aumento da importação, o efeito inflacionário teria sido maior. A
produção industrial encolheu porque as fábricas foram incapazes de
competir, e o investimento diminuiu.
Sem
distinguir objetivos de curto e de longo prazos, desafios
conjunturais e problemas estruturais, o governo colheu inflação
elevada, estagnação econômica e contas públicas mais frágeis. Ao
mesmo tempo, bagunçou a política econômica e seus instrumentos. O
BC deixou de combater a inflação, a política de juros foi decidida
no Palácio do Planalto, deficiências estruturais foram tratadas
como problemas de conjuntura e os preços foram contidos por meio de
intervenções tópicas. A redução do imposto sobre os automóveis
e outros bens duráveis e a contenção das tarifas de combustíveis
entram nesse capítulo. A insistência da presidente em reduzir as
contas de energia elétrica, a partir de agora, é uma continuação
dessa trapalhada. É uma imprudência tratar o preço final da
eletricidade como questão isolada, sem levar em conta os programas
de investimento e os vários componentes de custos, incluída a
tributação em todos os níveis.
Os
danos impostos à Petrobrás são em parte explicáveis por essa
confusão de objetivos e políticas, tão característica do governo
atual. Mas decorrem também da subordinação da estatal aos
interesses político-partidários do Palácio do Planalto, da
peculiar diplomacia terceiro-mundista do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e da conversão da empresa em instrumento de política
industrial. Em vez de cuidar de seus objetivos empresariais e
especialmente do enorme desafio da exploração do pré-sal, a
companhia foi forçada a atender a uma porção de outras
solicitações. Os resultados são indisfarçáveis.
Mas
o governo parece impermeável à maior parte dessas lições. O
Ministério da Fazenda dispõe-se a adotar novos artifícios para
encenar o cumprimento da meta fiscal. Tudo se passa, de fato, como se
o resultado real das contas públicas fosse muito menos importante
que a sua representação contábil. Sem medidas típicas de política
monetária, o BC tem atuado no mercado cambial para desvalorizar o
dólar, em mais uma tentativa de influenciar indiretamente a
inflação. A conta será parcialmente paga, é claro, pelos setores
prejudicados pela valorização do real. De vez em quando, num surto
de lucidez, o governo leva em conta as consequências mais amplas de
suas decisões. Exemplo disso é a disposição de rever os termos
das novas concessões no setor de transportes. Mas surtos desse tipo
têm sido raros e brevíssimos e a confusão do voluntarismo volta a
se impor.”
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