quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

JORNALISTA RICARDO SETTI APONTA VIOLAÇÃO DO DIREITO DE DEFESA DO ADOLESCENTE CORINTIANO QUE ASSUMIU CRIME


É certo que a responsabilização do adolescente H.A.M pelo crime de homicídio no jogo pela Libertadores disputado na Bolívia é bem conveniente aos membros da Gaviões da Fiel, ao Corinthians, aos patrocinadores do evento e à TV Globo, visto que o espetáculo da Libertadores deve continuar com o mínimo de mácula. A figura de um menor irresponsável é melhor do que a figura de uma quadrilha composta por 12 membros da Gaviões da Fiel acusados de assassinar um boliviano de 14 anos.

Num texto perspicaz, o Jornalista Ricardo Setti, que também é Advogado, apontou violação do direito de defesa do menor, além da omissão injustificada da OAB no caso, a saber:

26/02/2013, às 16:27
O garoto que assumiu o crime na Bolívia está sendo defendido pelo mesmo advogado interessado na libertação de 12 membros da Gaviões da Fiel presos como responsáveis pela tragédia. O JOVEM TEM DIREITO A UMA DEFESA ISENTA!

Amigas e amigos do blog, uma enorme onda de ceticismo envolve as declarações do menor H. A. M., de 17 anos, que diz ter sido o responsável pelo disparo do sinalizador que matou, de forma horrível, um jovem boliviano de 14 anos durante a partida em que Corinthians e San José empataram na quarta-feira passada em Oruro, na Bolívia.

A conveniência, para a Gaviões da Fiel, que um menor de idade assuma a culpa pelo crime – que levou à prisão de 12 integrantes dessa torcida organizada, inclusive um membro de sua diretoria –, provocou um levantar geral de sobrancelhas.

Não por coincidência, virtualmente todos os veículos de imprensa estão tratando do caso com muito cuidado, e, corretamente, referindo-se a H. A. M. como “o menor que assumiu ter sido o autor” da tragédia ou o “suposto responsável” pelo crime.

Além de ser menor, há o fato de que o rapaz só resolveu falar, em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, quando já estava em segurança no Brasil, cuja Constituição veda inteiramente a extradição de seus nacionais – ou seja, sua transferência a um país estrangeiro para ser julgado por um eventual crime.

Não pouca gente supõe que possa ser uma armação – que a Gaviões da Fiel, sabe-se lá em troca do quê, poderia ter conseguido do rapaz essa iniciativa, de forma a livrar os 12 torcedores detidos por tempo indeterminado na Bolívia.

Isso pode ter ocorrido – como se sabe, as torcidas organizadas são capazes de tudo “neztepaiz”. Ou não.

O fato que não pode deixar de ser debatido é que o jovem esteja sendo defendido PELO MESMO ADVOGADO DOS 12 PRESOS. Ou seja, por um profissional – o doutor Ricardo Cabral – cujo grande interesse é liberar seus clientes, gente de proa da Gaviões.

Vejam bem o trecho de reportagem de hoje do jornal O Estado de S. Paulo sobre a reunião que o menor teve ontem, por 2 horas e 15 minutos, com o promotor público Gabriel Rodrigues Alves, em Guarulhos:

'A estratégia de Ricardo Cabral, que é advogado do adolescente e da torcida, foi levar o menor à Justiça [no caso, a Vara da Infância e da Juventude de Guarulhos (SP), onde se deu o encontro com o promotor] E DESVINCULAR O JOVEM DA ORGANIZAÇÃO E APONTÁ-LO COMO ÚNICO CULPADO' (as maiúsculas são minhas).

'Ele comprou os sinalizadores em um camelô e pagou vinte reais. Os artefatos foram levados até a Bolívia dentro de uma mochila e ninguém [LEIA-SE SEUS COMPANHEIROS DA GAVIÕES DA FIEL] sabia o que tinha dentro', diz Cabral.

Mais adiante, prossegue o Estadão:

'A expectativa do advogado é que a confissão do menor facilite a liberação de 12 corintianos que estão presos em Oruro desde quarta-feira, acusados pela morte de Kevin [o jovem boliviano], dois como responsáveis e dez como cúmplices'.

'Cabral disse que já enviou à embaixada brasileira na Bolívia fotos e a ficha de sócio da Gaviões da Fiel do adolescente para que a documentação fosse enviada à Justiça boliviana. ‘ Comparando a identidade dele [do menor] e a ficha cadastral com foto colorida, não restará nenhuma dúvida. Eu já fiz essa comparação e não há dúvida’, disse o advogado. ‘Esperamos que o governo brasileiro faça a sua parte porque doze brasileiros inocentes estão presos na Bolívia'.

Está bom ou querem mais, amigos do blog?

Vocês consideram que o advogado – com todo o respeito – está a serviço de quem, nessa história?

Vamos conceder o benefício da dúvida ao dr. Amaral: ele estaria defendendo os 12 torcedores presos e, de uma forma bastante original, também o garoto que se auto-incriminou.

MAS HÁ UM SÉRIO PROBLEMA DE CONFLITO DE INTERESSES NO CASO. O advogado da Gaviões quer libertar os 12 presos. Para isso, caiu do céu a suposta confissão de H. A. M. Considero que, ETICAMENTE, um advogado não pode estar nas duas pontas do mesmo caso, uma vez que a inculpação do jovem resultará em benefício de seus 12 clientes.

Vamos supor que H. A. M. seja mesmo culpado.

Se fosse, e sua família procurasse um advogado neutro, ele estaria dando de bandeja para a Justiça – no caso, a brasileira, que provavelmente vai julgá-lo com base no Estatuto do Menor e do Adolescente, em contato com as autoridades bolivianas – esse tipo de declarações?

O mínimo que uma defesa isenta do rapaz merece é um defensor público ou algum voluntário da Ordem dos Advogados do Brasil.

A OAB, que anda omissa em tanta coisa, ficará também nesse caso?

Quem me chamou a atenção para esses fatos foi o amigo Eduardo Lima, o Edu, um dos editores do site de VEJA.”

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