Em
seu blog na Veja, num artigo intitulado “Tucanos pra quê?”,
Reinaldo Azevedo aponta a falta de políticos oposicionistas no
Brasil, mostrando, assim, a hegemonia petralha no discurso político.
Portanto, não há vozes contrárias ao PT, não há debate político.
Trata-se de algo preocupante, visto que os cidadãos brasileiros tornam-se reféns
de um partido cujos membros (José Dirceu, José Genoino etc.) foram
condenados no caso do mensalão por formação de quadrilha e outros
crimes. Todos os condenados permanecem no partido em posições de
destaque, influenciando a política nacional.
O
único partido oposicionista (em tese, pelo menos) com alguma
relevância, o PSDB, não cria discurso algum e se submete às ordens
petralhas.
Políticos
do PSDB, que poderiam fazer o papel de oposição, negam-se a fazê-lo
por medo de retaliações. Resta-lhes a merecida pecha de covardes.
Assim, Reinaldo Azevedo questiona a ausência política do PSDB:
“Tucanos
pra quê?
Não
tem jeito, não! As coisas não acontecem por acaso. A oposição não
chega ao estado miserável a que chegou no Congresso por acidente. É
preciso muito esforço para isso. É preciso haver muita dedicação.
E nisso, convenham, os tucanos são de uma aplicação comovente.
Pelo critério da proporcionalidade, ao PSDB caberia, como coube, a
Primeira Secretaria da Mesa Diretora do Senado, mas a turma de Renan
Calheiros (PMDB-AL) poderia ter retaliado e negado a vaga ao partido.
Não é lei, mas acordo. Já que, oficialmente, o partido havia se
alinhado com a candidatura adversária, não haveria por que cumprir
compromisso. E os patriotas de Renan até chegaram a pensar nisso.
Quando, no entanto, foram computados os votos, tiveram uma certeza:
parte da bancada, os bons de bico, traiu o compromisso e deixou Pedro
Taques (PDT-MT) na mão. E aqueles que o fizeram certamente deram um
jeito de fazer chegar ao rei posto a sua (in)fidelidade.
Eu
já havia escrito aqui que o coração de muitos tucanos pulsava
mesmo é pelo peemedebista. Assim, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA)
assumiu a Primeira Secretaria sem medo se ser feliz. Ele também é
investigado pelo Ministério Público Federal. Temos uma Mesa
Diretora formada por heróis.
Os
11 tucanos poderiam vir a público para declarar o seu voto. Não se
trata de patrulha, não, mas de vergonha na cara. Já que se anunciou
à sociedade o apoio ao adversário de Renan, cumprira agora deixar
claro quem fez o quê. Notem: ninguém é obrigado a abrir o voto.
Mas todos podem se dispensar de mentir. Se havia senadores contrários
ao apoio a Taques, que dissessem, ora.
Aécio
Neves (PSDB-MG), cotado para ser presidente do partido e apontado
como candidato à Presidência da República, havia acenado com a
possibilidade de fazer um discurso em defesa da candidatura de
Taques. Discurso não houve. O senador se limitou, há alguns dias, a
fazer uma espécie de convite-apelo a Renan para que retirasse a sua
candidatura. O alagoano não topou, claro… O apoio ao opositor de
Renan, no fim das contas, foi uma operação de marketing que acabou
saindo pela culatra. Agora, resta suspeita da farsa, do adesismo e da
traição, tudo misturado. Se era para fazer esse papelão, melhor
teria sido defender que a presidência coubesse à maior bancada e
fim de papo. Melhor a sabujice franca do que a dissimulada.
No
dia
3
de setembro de 2012,
escrevi aqui um texto afirmando que a greve que realmente faz mal ao
Brasil é a greve da oposição, que está paralisada há sete anos,
caminhando para oito, desde quando ficou com medo das consequências
e recuou diante da possibilidade
de pedir o impeachment de Lula, na crise do mensalão. Depois disso,
não se encontrou mais.
É
claro que há líderes regionais importantes do partido. No próprio
Congresso, há deputados e senadores que fazem um trabalho sério e
não temem confrontar o governismo em questões relevantes. Já
destaquei aqui o trabalho, por exemplo, de Álvaro Dias (PR) e
Aloysio Nunes (SP) — espero que estejam entre aqueles que votaram
em Taques. O que falta, no entanto, é uma diretriz partidária. Que
cara tem, afinal, o “maior menor” partido de oposição do país?
Quer o quê? Acena com quais valores? Não se sabe. Há um vazio de
mensagem, há um vazio de propostas, há um vazio de liderança.
Assim,
cabe a pergunta: “Tucanos pra quê?”.
Não
é um qualquer
A eleição de Renan Calheiros é uma porrada na cara da nação. Estou entre aqueles que acham que a oposição tinha a obrigação política de apresentar uma alternativa, ainda que o PMDB tivesse apresentado como candidato uma vestal. Mas não! Tratava-se de Renan Calheiros, que já teve de renunciar a esse posto. Assume a cadeira denunciado por três crimes. 'Ah, mas ele é inocente até não ser condenado pela Justiça…' Fato. Ocorre que estamos falando de política, não de polícia — ainda que essas duas palavras sejam quase anagramáticas. A Justiça vai, sim, decidir se ele cometeu crimes ao tentar provar que pagava pensão à ex-amante e a um filho com recursos próprios. O que é incontroverso é que uma empreiteira arcava com as despesas.
Um
partido ou um grupo que tem a ambição de chegar ao poder tem de
escolher uma mensagem, tem de mobilizar fatias da sociedade, tem de
definir com quem quer falar. Há dez anos — notadamente dos últimos
sete! —, o PSDB, como voz institucional, foge miseravelmente de
todos os embates e se expõe ao descrédito e à chacota daqueles que
entendem que a democracia é o regime das alternativas, não do
discurso único.
Eu
não sei a resposta. Se os tucanos sabem, poderiam nos dizer: 'PSDB
pra quê?'.
Por
Reinaldo Azevedo ”
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